TEOLOGIA BÍBLICA PRÁTICA, PASTORAL OU PÚBLICA
1. O que é?
A Igreja Batista Memorial de Jundiaí foi organizada desde 1967 e adota como Declaração Doutrinária a declaração da Convenção Batista Brasileira. Nossa preocupação como Igreja de Cristo é dupla: termos uma ortodoxia correta, zelando pelo ensino verdadeiro das Escrituras Sagradas, nosso único livro de regra e fé, mas também termos uma ortopraxia verdadeira, equilibrada, que responda aos anseios do homem de hoje em suas mais variadas esferas, para que ele possa ser edificado e edificar o corpo de Cristo. E é partindo disto que nós, da IBMJ, temos como linha teológica a Teologia Bíblica Prática, também chamada de Pastoral ou Pública.
Em Atos 20.27-28 está registrado que Paulo, em seu discurso aos anciãos da igreja de Éfeso, mostrou também cumprir ortodoxia e ortopraxia semelhante, quando disse: “Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus. Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue”.
Partimos e esclarecemos nossa linha teológica porque é preciso que sejamos objetivos quando somos abordados acerca da razão de nossa esperança cristã (1Pe 3.15), ou seja, o por que cremos assim? Qual a cosmovisão em que estamos estribados? Enfim, qual é a nossa definição teológica na prática, no dia-a-dia da igreja? E isto tem sua importância, pois, se soubermos distinguir no que realmente acreditamos, teremos como levar avante o verdadeiro evangelho de Jesus.
“A Teologia Prática mantém um diálogo que ultrapassa as fronteiras meramente eclesiais e acadêmicas em sua linguagem e metodologia, mas, sem perder de vista o seu objeto de estudo, que são as Escrituras Sagradas, por isso, mantém o compromisso com a Teologia Sistemática” |
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A Teologia Prática é também chamada de Pastoral porque se coloca como um estudo teológico feito de forma útil ou aplicável, isto é, de uma maneira práxis, levando em conta a teoria, a doutrina, a teologia, contudo, observando a relevância das preocupações cotidianas das pessoas. A ênfase desta linha teológica, então, não é apenas estudar e refletir teologia acadêmica de forma filosófica e teórica, mas, ir além, alcançando a aplicação prática contemporânea das doutrinas bíblicas no cotidiano da igreja e de cada membro, em si, na família, na sociedade, na cultura. E, para que esta teologia possa ser prática, pública, pastoral de verdade, usamos uma linguagem que alcança desde a criança ao idoso, as pessoas com formação acadêmica ao analfabeto, ao rico e ao pobre, enfim, a todos que entram na igreja de portas abertas.
A teologia é um estudo científico importante na formulação e sistematização das doutrinas bíblicas, porém, não deve se tornar um fim em si mesma, uma camisa de forças ao saber e prática cristão. A teologia deve ser aplicável na vida daquele que crê em Cristo, e, desta forma, deve ainda ter implicações no modo de agir e proceder de cada um em seus contextos particulares e coletivos, dialogando também com as outras ciências que se prestam a refletir sobre a verdade concernente ao ser humano, a sua história, o seu contexto, e assim, responder às suas angústias e necessidades mais basilares, como fez nosso Senhor Jesus, que analisou e cuidou de quem se aproximou dele, ensinando, orientando e acolhendo as dores e lástimas pessoais de dada um em particular e no coletivo.
Temos como base teórica inicial para nossa prática teológica o Senhor Jesus Cristo, nosso maior exemplo pastoral, pois Ele é, com certeza, o supremo pastor em quem nos espelhamos. Desde Sua Encarnação, Jesus manifestou sua sublime missão de maneira pública, visível, prática, e viveu intensamente em sociedade, sem os pecados desta, mas, agindo com misericórdia, graça e justiça, corrigindo os erros, reorientando a conduta e expiando o pecado da humanidade que crê. Nada simplesmente teórico, filosófico e contemplativo, mas, atuante, vibrante e eficiente. Jesus nos ensinou uma postura que vai além de uma vida eremita, vivida em um claustro, antissocial. Ele nos mostrou a verdadeira maneira de cumprirmos nossa missão, sendo sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13-16). Por isso, nós da IBMJ cremos que “o sal precisa cumprir seu propósito fora do saleiro. A luz precisa expandir-se para além das restrições de pequenos locais fechados”.
Jesus não se debruçou apenas em teorias do saber religioso, filosófico, social, teológico, psicológico, etc. Claro que Ele mostrou conhecimento em todos esses quesitos, porém, foi além, indo à ação, à prática pastoral, pública, agindo de forma relacional, demonstrando que gostava de pessoas, andava com elas, e não apenas ficava em uma antessala de um templo, ou em um gabinete sacerdotal esperando ser consultado por algum assistente sobre questões teóricas da vida humana. Nosso Mestre dialogava, debatia, ouvia as pessoas e as orientava de forma clara e direta. Ele não se contentava em conhecer as pessoas de forma superficial, pois isto não nos faz entender as necessidades reais de alguém. Jesus procurava conhecer o próximo de forma profunda, em sua essência humana, com seus sofrimentos pessoais, angústias, frustrações, anseios, seus maiores questionamentos em áreas individuais e sociais. Por isso temos nosso Senhor Jesus como referência máxima da nossa linha teológica.
A fonte da Teologia Bíblica Prática e Pastoral, como estamos vendo, tem o seu único embasamento teórico a Bíblia, mas, também usa de outras ciências como ferramentas para o estudo e aplicação da Palavra. Esta teologia parte de Jesus e do que Jesus ensinou aos seus discípulos, assim como da observação da maneira deles praticarem os ensinos e a práxis de seu Senhor. Eles seguiram os ensinamentos de Cristo, e nós também podemos e devemos aprender através de toda a Escritura, dos Evangelhos, das cartas do apóstolo Paulo, das cartas pastorais em geral, etc. A teologia prática é histórico sistemática, como também baseada na história do povo de Deus, na história do cristianismo primitivo e da igreja cristã, tirando daí os ensinamentos e a prática da igreja em seu contexto contemporâneo. O povo de Deus sempre praticou os ensinos bíblicos, e não somente ficaram em uma sala de aula.
O princípio fundamental da teologia bíblica pastoral é o conselho de Paulo a Timóteo: “Conjuro-te, pois, diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu Reino, que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina” (2Tm 4.1-2). É o princípio fundamental do “Que pregues a palavra”. A teologia é serva da Palavra. A teologia presta um serviço à Palavra. A teologia tem um papel importante para a Igreja, mas precisa estar comprometida com a igreja, pois, quando a teologia e o teólogo não tem comprometimento com a igreja, é como o musico gospel que canta em vários lugares, sem compromisso real com nenhum deles. Da mesma forma, em comparação, este teólogo somente dá aula, escreve textos e vende os seus livros, sem compromisso real com Deus em nenhuma de suas tarefas.
Paulo disse em 2Coríntios 3.3: “Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração”. Então, desde os primórdios da igreja cristã, na época apostólica ainda, a Teologia Bíblica Prática era a forma da igreja contribuir para o desenvolvimento do Reino de Deus. Partindo dessa perspectiva, nós, da IBMJ, entendemos que Teologia e Bíblia são princípios fundamentais da teologia bíblica pastoral, sendo que a teologia presta um serviço à Palavra, e a Palavra nos conecta ao exercício da fé cristã na sua dimensão comunitária, pública.
A Bíblia é nosso guia e a História da Igreja nosso conselho. Vemos na história os erros e acertos da Igreja. Por isso, Cristo é o nosso modelo perfeito de como viver o cristianismo de ação no trabalho, na comunidade, na escola, entre os parentes, etc. Queremos ser a resposta com significado bíblico-teológico dos problemas com que nos debatemos em nosso dia-a-dia, entendendo que há um propósito divino e que devemos entender-nos neste propósito, como diz em Romanos 8.28: “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”.
Deus se relaciona! E a teologia, em sua dimensão etimológica, tem a ver com o estudo sobre Deus, e uma das maneiras de se aprender, de se ter revelações a respeito de quem é Deus e de como Ele age está na questão da práxis, isto é, da prática da convivência. Então, podemos observar que a Bíblia é uma fonte inesgotável de conhecimento e de literatura no que se refere a Teologia Bíblica Prática Pastoral ou Pública. A nossa teologia não pode permanecer apenas no ambiente eclesial e no ambiente acadêmico. Ela precisa dialogar com a sociedade em todas as suas esferas, sair do seu território simplesmente acadêmico para trazer a luz para o ambiente público no campo da ética e da moral, ir para além das fronteiras eclesiais.
Um líder deve estar preparado teologicamente para se posicionar com as questões pastorais teóricas e práticas de acordo com a sua denominação ou instituição de ensino teológico. O seu compromisso e prioridade é a vida espiritual das ovelhas, que está sendo treinada, discipulada a imagem de Cristo, e a base deste tipo de pastorado está fundamentada nas Sagradas Escrituras. Este líder precisa estar preparado para entender o seu contexto, ter sensibilidade para tratar questões do cotidiano das pessoas, ou seja, questões que envolvem a vida humana delas, desenvolvendo as habilidades inatas do ser humano e orientando o uso dos dons que o Espirito Santo concede para que cada cristãos edifique e seja edificado para que possa servir bem ao próximo, cuidar dos enfermos e cooperar com agências sociais e governamentais, sendo um mordomo que presta contas dos recursos normais e especiais ao seu Senhor, com sabedoria, para fugir dos escândalos e tentações, exercendo o seu ofício como ministro: ordenanças, casamentos, funerais, visitas, aconselhamento, ceia, batismo, e além disso, pregar todo o conselho de Deus, em nome de Deus.
Os partidários da Reforma do século XVI viam essa “teologia leiga” de forma bem entusiasmada, resgatando o que é o teor do NT: Jesus Salvou, e comissionou a igreja para pregar a Salvação. É o que chamamos de “sacerdócio de todos os crentes”, baseados em 1Pedro 2.9, que diz: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. O anúncio eficiente deve ser feito de maneira prática, pois, fomos adquiridos para ser, e não apenas para pensar ser.
O puritanismo é um exemplo excelente de um movimento que posicionou a integridade teológica lado a lado com a teologia bíblica prática e pastoral, acreditando que uma coisa era incompleta sem a outra. As obras de homens de Deus como Richard Baxter nos mostram como a teologia encontra sua verdadeira expressão no cuidado pastoral e no nutrimento das Almas. O puritanismo foi um movimento religioso que ocorreu na Inglaterra entre os séculos XVI e XVII, que tinha como meta fazer a integridade do indivíduo com a santidade ordenada na Bíblia, vivendo em uma sociedade corrupta e corruptora, mas, se posicionando a favor da integridade cristã prática.
O apóstolo Paulo, em Romanos 15.14, escreveu: “Eu próprio, meus irmãos, certo estou, a respeito de vós, que vós mesmos estais cheios de bondade, cheios de todo o conhecimento, podendo admoestar-vos uns aos outros”. Ele está aqui dizendo que os cristãos de Roma, na época dele, estavam aptos e habilitados para o pastoreio, e nesse sentido, entendemos que todo cristão precisa exercer esta incumbência pastoral prática, tendo responsabilidade pastoral, exercendo o seu pastorado de assistência e vigilância, de apoio e de suporte para o fortalecimento espiritual das almas das pessoas. Devemos assumir isso como responsabilidade pessoal e cuidar do próximo, dos nossos conhecidos, parentes e irmãos. E a Bíblia está repleta de orientações e de mandamentos de mutualidade – é o uns pelos outros. Sim, biblicamente falando, precisamos edificar uns aos outros, pois o cristianismo não é uma mera expressão religiosa, uma espiritualidade de isolacionistas contemplativos, ou um debate filosófico teórico. O cristianismo tem em sua essência a questão ética e a prática bíblica pastoral.
Em Hebreus 3.1 lemos assim: “Por isso, irmãos santos, participantes da vocação celestial, considerai a Jesus Cristo, apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão”. E em 1Pedro 5.1-2: “Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto”. Esses textos nos mostram que o cuidado pastoral para com o próximo deve ser como o do bom samaritano, que acudiu e atendeu aquela vida que estava abandonada por assaltantes naquela Estrada (Lc 10.25-37). De igual modo, Jesus espera que sejamos como O Bom Samaritano. Naquela parábola, o próprio sacerdote e o próprio levita, que tinham por dever religioso agir em assistência pastoral para com aquela vida, não fizeram nada, e, de onde não se esperava, um samaritano, que Jesus deu a ele o adjetivo de “bom”, foi o que agiu e atuou curando as feridas, atando-as ali mesmo, aplicando o azeite e dando o cuidado pastoral necessário àquele moribundo. Esse é o exemplo que Jesus nos dá sobre a missão da Teologia Pastoral Encarnacional. Na figura da parábola do bom samaritano observamos que Cristo coloca o ser humano acima de questões técnicas intelectuais sociais. Óbvio que Jesus não condena o conhecimento, mas, Ele mostra a práxis da teologia, que é o que realmente importa na vida.
A igreja tem muito a ver com o cotidiano das pessoas e com os problemas sociais que elas enfrentam, com os seus dilemas e angústias. E é por isso que cremos que a igreja precisa ter um linguajar acessível, abrindo um diálogo com várias frentes da existência humana, dialogando não apenas com quem quer ouvir de pronto, mas também despertando o interesse do cristão desapercebido para as questões teológicas fundamentais. A teologia precisa dialogar com a sociedade. Infelizmente, muitas das igrejas históricas não conseguem dialogar com a sociedade. Basta vermos nas comunidades mais pobres e periféricas! Quais igrejas conseguem normalmente se estabelecerem nestes locais? A teologia bíblica pastoral e prática tem como objetivo o aspecto dialético e dialogal da teologia para adentrar esses e outros recônditos.
O cristianismo chega onde outras religiões elitizadas e intelectualizadas não chegam, por isso é uma das maiores religiões do mundo, com seus valores de altruísmo, de compaixão, de atos de misericórdia, etc. Mas, percebamos que o cristianismo domina não apenas por causa dessas ações altruístas, e sim porque ele transforma a sociedade e as famílias. A Reforma Protestante abriu o caminho para o Iluminismo, para a livre interpretação de textos jurídicos e filosóficos. O calvinismo, na Suíça, contribuiu muito para a urbanização e organização daquela nação, assim como o presbiterianismo na Escócia, o luteranismo na Alemanha, John Wesley, na Inglaterra, considerado o pai da assistência social, os pioneiros na colonização americana, e tantos outros exemplos. Vejamos que o cristianismo vai mexendo em estruturas, contribuindo muito com a cultura, dialogando muito com a sociedade e nas suas mais diversas manifestações.
Desejamos ardentemente que as questões teológicas que já surgiram há séculos, que foram cruciais para a defesa da nossa fé, e guardiã da sã doutrina, seja de acesso a todos os crentes e não sejam tratadas somente como questões acadêmicas, reflexivas no âmbito teórico, em que apenas um grupo específico de clérigo possa tratar a portas fechadas, enquanto a igreja fica do outro lado esperando as resoluções para ter em mãos um credo para decorar e recitar e pronto, somos cristãos autênticos. Na verdade, cada doutrina, cada questão teológica, cada resolução deve ser levada à prática (teologia práxis), para que a teoria possa ser testada, e daí sim, retornarmos à teoria mais enriquecidos e enriquecedores, e, posteriormente, voltando à prática diária com a mente transformada e transformadora, como Paulo disse em Romanos 12.2: “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus”.
As disciplinas como homilética, adoração, os cuidados pastorais, a administração eclesiástica, o governo eclesiástico, as boas obras de todas as variedades das quais a igreja pratica, precisam estar alicerçadas no conhecimento correto das Escrituras. A comunidade cristã necessita conhecer o Conselho de Deus, desde a criança aos adolescentes, jovens, adultos e idosos. Isto não pode ser exclusivo de um grupo de pensadores. Os pensadores precisam aprender a pedagogia e a andragogia de Jesus para nos ensinarem.
Este é o lado prático da fé e da prática religiosa em contraste com a teologia dogmática que leva ao simples conhecimento livresco. E é aqui que encontramos o como que o estudo teológico precisa estar a serviço do povo de Deus para dar base ao aconselhamento bíblico, ao discipulado, a edificação, a instrução, a exortação e ao confronto com as heresias.
Como vemos, a teologia bíblica prática pastoral não deixa de ser erudita, mas também deve ser pública. Ela consiste em reflexões sofisticadas e profundas porque trabalha com questões concretas da experiência humana e preza muito pela espiritualidade em seu sentido amplo máximo. A teologia pública é prática, debatendo sobre temas atuais relevantes na sociedade, participando da vida pública, ética, moral e acadêmica no cotidiano das pessoas, do conhecimento empírico. E assim podemos afirmar que ela é uma ciência que trabalha no campo da moral, da ética, e da ciência.
Nós, da IBMJ, entendemos que Deus concede à sua igreja dons ministeriais, vocacionais e espirituais. Ele usa talentos naturais para a convivência cristã, para edificação. O apóstolo Paulo, em 1Coríntios 12.12-27, ressalta que cada membro tem sua importância no corpo, tendo cada um sua própria função e desígnio. Se todos fossem olhos..., se todos fossem ouvidos... não haveria um corpo funcional. E na sua carta aos Efésio 4.12, ele diz sobre a funcionalidade de cada um em sua determinada vocação, dizendo que o que Deus quer com isso é “o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo”. A palavra aperfeiçoamento aqui vem do grego katartismos, usada para indicar a correção de ossos partidos, a restauração de algo ao seu estado primitivo, etc. A raiz dessa palavra é artios, que significa “completo”, “perfeito”, “totalmente adaptado”. A forma verbal, katartidzo, significa “restaurar”, “ajustar”, “pôr em ordem”, “reformar”. Observando estes textos e o significado do termo “aperfeiçoamento”, compreendemos que temos a nossa responsabilidade cristã de nos envolver com os problemas do próximo, com os problemas da nossa geração, com os problemas da sociedade, com os problemas dos lugares onde estamos como cristãos, para viver um cristianismo com base no Evangelho da Graça, com atos de misericórdia, para praticar uma vida cristã muito mais humanizada.
Jesus Cristo é a nossa Salvação, por isso, precisamos viver e ensinar os Seus mandamentos para resgatar o propósito da criação de Deus. A falsa religião é o religiozismo que faz com que as pessoas percam o interesse do serviço pastoral do auxílio às pessoas, e isso de fato é um tiro no pé, pois não condiz com o que o Senhor Jesus é e viveu. Devemos ser humanos. Na visão de Cristo, precisamos ser servos uns dos outros, ser pastores de vidas, nos importar com a realidade alheia, porque o isolacionismo é de uma prática que foge dos padrões do que Jesus espera da Sua igreja a partir da Igreja Primitiva.
Quando não vivemos esta prática da vida cristã na sociedade, entregamos para as seitas, filosofias vãs e demais religiões deturpadas, a chance de ocuparem o espaço que a Igreja de Cristo deveria ocupar. Quando olhamos a história do cristianismo, vemos que ele contribuiu para a educação na fundação de inúmeras universidades, na questão de saúde pública, na construção de hospitais, orfanatos, centros de recuperações para viciados em drogas, etc. Essa é uma parte da rica história do cristianismo e da sua contribuição nas demais esferas da vida humana, contemplando a humanidade nas suas mais diversas dimensões. Então, o cristianismo se difere sim de outras religiões ou organizações porque não tem viés ideológico, partidário, proselitista, sincretista, mas sim, prega a salvação do homem por meio de Cristo Jesus primordialmente.
Quando falamos de teologia bíbica pastoral ou prática na IBMJ, estamos falando de pensadores e teólogos como verdadeiros cristãos, e não de pastores e lideranças ativistas e militantes ideológicos. Não concordamos com uma militância política, com motivações políticas misturadas ao ministério bíblico pastoral da igreja. Quando estamos falando de teologia prática pastoral ou pública, estamos falando da contribuição da igreja na esfera pública. Sim, pastores tem o direito de se expressar, mas, não somos ativistas políticos e ideológicos.
Com essa base, nós, da IBMJ, entendemos que o pastor, no exercício da sua função ministerial pastoral, deve tomar cuidado para não se tornar um político, cabo eleitoral, influenciador ou o que quer que seja nesse âmibito. O pastor precisa ensinar ao povo de Deus que pecamos é pela falta de conhecimento (Os 4.6), e não se tornar um filósofo paroleiro que tem um público cativo em torno de si mesmo e que não traz a prática do que é ensinado na Palavra de Deus. É ensinar ao povo a serem imitadores de Cristo, assim como o pastor o é (1Co 11.1).
O grande resgate que a Reforma Protestante trouxe com Martinho Lutero foi o sacerdócio universal de todo o cristão. Claro que não queremos apenas exercer o nosso dom espiritual e colocar os nossos talentos sem ter uma base teológica que nos oriente no sentido de sabermos o que estamos fazendo e para quem estamos fazendo. O desejo do nosso coração, baseados no resgate da Reforma, é que todo o Conselho de Deus não esteja restrito há uma elite pensante dentro das igrejas, que se acham detentores de todo o saber, mas não o torna acessível a crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos.
Precisamos, e muito, dos queridos irmãos teólogos na IBMJ, pois consideramos que são pessoas que dedicam sua vida a estudar e entender todo o Conselho de Deus, mas, precisamos de uma teologia que nos ajude dia a dia a entender o nosso contexto e dar resposta ao mundo em que estamos vivendo. Precisamos de uma pedagogia e andragogia que traduza para nós os tratados teológicos, normativos e diretivos, pois entendemos que quando falta o Conselho de Deus, ocorre aberrações na prática de vários seguimentos religiosos que escandalizam o Evangelho por se autodenominar igrejas cristãs.
Quanto ao estudo e prática da teologia, entendemos que não pode ser somente uma teorização que apenas um pequeno grupo de pessoas entende, pois, a teologia não pode gerar um formalismo engessado, então, precisamos de uma teologia que esteja a serviço do Reino de Deus, para ajudar os cristãos a não serem autômatos, máquinas de fazer sem saber o porquê fazem, o como fazem, e para quem estão fazendo. Queremos ter uma teologia que dê o real sentido do viver cristão, que o faça entender qual realmente é a sua missão, seu chamado! Que possamos ir além da resposta mais comum do que é o viver cristão, que é o servir! E aprofundarmo-nos no questionamento real: qual o propósito de servimos?
A IBMJ entende que a Igreja é o Corpo de Cristo, e que o Espírito Santo foi quem nos colocou no Corpo e nos deu dons espirituais. O nosso chamado é para servir. Não existe nada no corpo que não tenha uma função, e embora sejamos muitos membros, somos um só corpo, e o nosso objetivo é fazer com que o corpo cresça, edificado, até que todos cheguemos a plenitude da estatura de Cristo, nosso modelo. Claro que para servir em alguma área da Igreja é necessário o preparo teológico, técnico, operacional, linguístico, e daí vai. Contudo, adotamos em nossa igreja uma teologia bíblica prática, que tem o objetivo real de levar o modus vivendi cristão à prática diária de seus membros, para que o cristão possa desenvolver sua fé servindo na igreja local, e ainda ir para além das fronteiras das quatro paredes da sua congregação. Queremos que todos, da criança até os idosos, pobres e ricos, formados em academias ou analfabetos, que todos os profissionais, independente da sua formação, saibam defender sua fé, e dialogar com todos que pedirem a razão da sua esperança (1Pe 3.15), com bases bíblicas bem firmadas, tanto teórica quanto empiricamente. Somos o povo da Palavra e da experiência. Da experiência e da Palavra. Não um sem o outro, mas, um com o outro.
Enfim, nossa linha teológica bíblica prática, pastoral e pública incita o povo de Deus em cada ambiente a “viver para Deus”, como expressado pelo puritano William Ames, e, se todos nós pudermos começar a viver a vida na presença de Deus e por meio de seu poder, a teologia e a vida cotidiana terão se encontrado e se abraçado, como asseverou o teólogo William A. Dyrness. E é assim que podemos pensar na teologia de nossa igreja formulada e dramatizada por todos os crentes à medida que seguem a liderança de Cristo no trabalho ou na família deles, dando testemunho prático do Evangelho em seus mais diversos contextos sociais.
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VANHOOZER, Kevin J. O drama da doutrina: uma abordagem canônico-linguística da teologia cristã. 1ª ed. São Paulo: Vida Nova, 2016.
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